sábado, 31 de dezembro de 2011

2011 Vai Passar



Escolhi para terminar o ano, um texto do Caio Fernando de Abreu que eu já tinha postado aqui. Mas é que ele apareceu nas minhas mãos novamente ontem e percebi que ele é perfeito para a virada. Ele é bem a cara do meu 2011, bem do jeito que eu vejo 2012. Um tanto amargo, mas simples e do bem. Espero que gostem da leitura.

Quanto a todos, inclusive para mim, quero que 2012 nos pegue de surpresa. Nos surpreenda. De uma forma boa, lógico, mas INUSITADA.

Bjs! Até o ano que vem!!!

Aldrêycka




 2011 Vai Passar


Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca".

Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência. 

Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. 

E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços. Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça. 

Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa. Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim: - "... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ..."


Caio Fernando de Abreu

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

"Words mean something to me"



A melhor cena do filme "Rumour Has It" (Dizem Por Aí) com Mark Ruffalo e Jennifer Aniston. Cenas como essas é que "pagam o filme". Perfeita!

Sarah (Jennifer Aniston) recebe um pedido de casamento do seu namorado, o Jeff (Mark Ruffalo) bem na semana do casamento da irmã dela. Ela aceita, mas guarda a aliança sem querer tocar no assunto com sua família. Quando viaja com Jeff para sua cidade natal para o casamento da irmã, Sarah pede para ele não contar do noivado para sua família, que eles iriam contar a notícia depois. Jeff não gosta muito da reação dela. Nem naquele momento, nem nos próximos dias. Desde o casamento da irmã Sarah se mostra ansiosa e cheia de dúvidas, até que some por uns dias, e ao procurá-la Jeff a flagra com outro cara. Ela tenta se explicar, mas ele não consegue entender. Tentando tocar na ferida que ele percebeu que iria mais doer nela, falou que se ela realmente o amasse, que eles casassem naquele momento. Ela arregalou os olhos e mais uma vez mostrou medo quanto ao casamento dos dois. Então ele foi embora. Ela percebe o erro, e vai até o apartamento dele, então se dá o seguinte diálogo:







Sarah Huttinger:   
If you shut the door, I understand, but I really hope that you don't.
Se você fechar a porta eu vou entender, mas eu realmente espero que você não faça isso.

I know there's nothing that I can say that will take away...
Eu sei que nada que eu diga pode apagar...



Jeff Daly:   
Then don't try.
Então nem tente.
 
I never told you, when I was a kid I was in a car accident when I was 10.
Eu nunca te falei, mas quando eu tinha 10 anos de idade, sofri um acidente de carro.

And I smashed my head on the dashboard and cracked my skull split it open from here to here, 17 stitches.
E eu bati minha cabeça no painel do carro e quebrei ossos do meu crânio daqui até aqui, levei 17 pontos.

And I never thought that I would long for that day until now.
E eu nunca imaginei que sentiria aquela dor novamente, até o dia de hoje.



Sarah Huttinger:   
It didn't mean anything.
Aquilo não significou nada.



Jeff Daly:   
It meant something to me. 
Significou para mim.

Words mean something to me.
Palavras significam algo para mim.

"Engaged" means something to me. 
"Noivado" significa algo para mim.

It doesn't mean "maybe I'll get married". 
Isto não significa "talvez eu me case".

It doesn't mean "I'll see how I feel, I don't know, I'm not sure".
Isto não significa "Eu vou ver como eu me sinto, eu não sei, não tenho certeza".

And it definitely doesn't mean "I'm gonna test the waters and see if there's somebody else out there that I like better".
E isto definitivamente não significa "Eu vou olhar por aí e ver se existe outro alguém aí fora que eu goste mais".

It means you've fallen in love with the person that you wanna spend the rest of your life with and that you actually want to marry them.
Significa que você se apaixonou pela pessoa com a qual você quer passar o resto da sua vida, e que vocês realmente querem casar.



Sarah Huttinger:   
I wanna marry you. 
Eu quero casar com você.

I'll marry you next month, I'll marry you this week. 
Eu caso com você no mês que vem, eu caso com você essa semana.

I'll walk out of this apartment right now and I will marry you.
Eu saio deste apartamento agora e caso com você.




Jeff Daly:   

It doesn't work that way, okay? 
Isso não funciona assim, ok?

You can't just walk in here now and tell me that you can't live without me and expect... What am I supposed to do with that, Sarah? 
Você não pode simplesmente vir aqui agora e me falar que não vive sem mim e esperar que eu... O que eu deveria fazer com isso, Sarah?

I'm supposed to make it all right for you? I can't anymore.
Eu deveria consertar as coisas com você agora? Eu não consigo mais.



Sarah Huttinger:
   
I don't want you to. 
Eu não quero que você conserte nada.

I love you. 
Eu te amo.

I didn't come here to tell you that I can't live without you.
Eu não vim aqui para te falar que não consigo viver sem você.

I can live without you. I just don't want to.
Eu consigo viver sem você, eu simplesmente não quero.





Perfeita!!!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

[RESENHA] Alta Tensão – Harlan Coben




Nesta aventura do conhecido personagem Myron Bolitar, nos deparamos com uma trama envolvendo segredos familiares. O drama se desenrola em torno de se questionar se o amor verdadeiro sobrevive a sinceridade total. Seja o amor entre parentes, quanto o amor entre um casal. Myron tenta descobrir segredos que envolvem Brad, seu irmão caçula e que não tem contato há 15 anos, Suzze, sua cliente e amiga e também sua cunhada problemática Kitty.

Seguindo a linha já conhecida do Harlan Coben de tratar de desaparecimentos, ALTA TENSÃO – ao meu ver – foi o livro menos envolvente do autor. Dos cinco livros dele que já li, acredito que esse não tenha tido uma trama tão imprevisível e de tirar o fôlego como DESAPARECIDO PARA SEMPRE, NÃO CONTE A NINGUÉM ou mesmo CILADA. Apesar disso o enredo é bem escrito e todos os mistérios no final são revelados, uma característica muito positiva do autor.

Outro ponto muito legal, que acredito que dá ao leitor uma pitada de familiaridade em qualquer livro do Harlan, é que às vezes um personagem secundário de um livro aparece de surpresa em outros. Um exemplo é a advogada durona Hester Crimstein, que aparece nos títulos ‘Não conte a ninguém’, ‘Confie em mim’ e ‘Cilada’. No caso de ALTA TENSÃO, a personagem que aparece de surpresa é a agente de polícia Loren Muse, que também fez parte da trama de ‘Confie em Mim’. Gosto muito desses personagens secundários visitando outras histórias, faz você se identificar com aquele livro no mesmo momento.


Ao meu ver este não é o livro de Harlan Coben que eu categorizaria como MUST TO HAVE, daria apenas um NICE TO HAVE, pois ele te ajuda a entender mais da vida do Myron Bolitar, um personagem chave do Harlan Coben que aparece em pelo menos quatro títulos: 'Quebra de Confiança' (primeira história do Myron), 'Quando ela se foi,' 'Alta Tensão' e 'Shelter' - que ainda não chegou no Brasil. Então, é bom que você tenha lido ALTA TENSÃO para entender os meandros psicológicos do personagem que parece ser a “aposta” do Harlan. Não sei se a idéia do autor seja criar um Robert Langdon do esquecido Dan Brown, o que eu acho uma péssima idéia. Diversos livros com o mesmo personagem pesam a leitura, dão gosto de “trilogia” e carimbam um leve teor de previsibilidade aos enredos. Tanto é que Dan Brown só se arriscou em dois livros. Harlan Coben já está no quarto, e eu estou um tanto pessimista quanto a isso. Não que eu não tenha gostado do Myron Bolitar, pelo contrário, pra mim ele é a própria mistura do mistério de George Clooney com toda a virilidade e aparência física de Javier Bardem, ou seja, delicinha. Mas é que 4 enredos com o mesmo personagem principal me desestimula.

Javier Bardem daria um excelente Myron Bolitar


Enfim... Leiam e tirem suas próprias conclusões quanto ao livro! Leitura rápida, leve e com gosto de Harlan Coben – não tem como ser ruim!

QUOTES:
 "A morte não faz a pessoa parecer mais nova, nem mais velha, tranqüila ou agitada. A morte faz a pessoa parecer vazia, oca, como se tudo houvesse ido embora, como uma casa subitamente abandonada. A morte transforma o corpo em um objeto - uma cadeira, um arquivo de pastas, uma pedra. 'Porque você é pó e ao pó voltará´, certo?" P.137

"É comum, em momentos difíceis, as pessoas dizerem que o tempo cura todas as feridas. Conversa fiada. Na verdade, você fica arrasado, se entrega ao sofrimento e chora até achar que não vai conseguir parar nunca mais - e então chega a um ponto em que o instinto de sobrevivência assume o controle. E você para. Simplesmente não quer nem consegue se permitir mais "entrar em contato" com a dor, porque ela é grande demais. Você a bloqueia. Você a renega. Mas na verdade não se cura." P.44

"Então, amigos de verdade. Você deixa que eles saibam o que há de pior dentro da sua cabeça. Tudo o que há de mais repugnante. (...) E sabe o que é mais estranho nesse tipo de relação? Sabe o que acontece quando você se abre totalmente e deixa o outro ver que você é uma pessoa decadente? (...) O seu amigo gosta ainda mais de você. Com todas as outras pessoas, você arma uma fachada e esconde as coisas ruins para que elas gostem de você. Mas com os amigos de verdade você revela seu pior lado e isso acaba conquistando o afeto deles. É quando deixamos cair a fachada que conseguimos nos conectar aos outros. Então eu pergunto a você, Myron: por que não fazemos isso com os outros?" P. 29

Aldrêycka Albuquerque

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

::..low rising...::::...




I wanna sit down and talk...



Cold Shoulder







"You grace me with your cold shoulder
Você me agracia com seus ombros frios
Whenever you look at me I wish I was her
Todas as vezes que você me olha eu gostaria de ser ela
You shower me with words made of knives
Você me rega com palavras feitas de navalhas
Whenever you look at me I wish I was her"
Todas as vezes que você me olha eu gostaria de ser ela
 
Cold Shoulder - ADELE




sábado, 24 de dezembro de 2011

X-MAS



Hoje é o dia que oficialmente, você para e reconhece que não é nada, que não tem nada sem a misericórdia d'Aquele que um dia morreu na cruz pelos nossos pecados. No Natal a gente se prostra, agradece e se humilha, no Ano Novo a gente se compromete a ser alguém melhor, e muda. Caso contrário, é tudo em vão.

Feliz Natal.




UP AT 00:09 (25/12) - Shift+Del e em questão de milissegundos ele deixou de existir. Para que 2012 venha zerado. Sem nenhum encosto e ainda por cima com mais espaço em disco.

UP AT 22:47 (25/12) - E dei Shift+Del porque só DELETE iria me levar a responder se eu tinha certeza de mover aquilo pra lixeira. E então a resposta seria não. Eu não tenho certeza se quero movê-lo para qualquer outro lugar. Dessa maneira, o excluí permanentemente da minha vida. E sem pop-ups com questões filosóficas inconvenientes.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Investir no sossego do próprio coração



Investir no sossego do próprio coração é algo tão complexo por causa da sua simplicidade. Porque ser simples é uma das coisas que mais dificulta a nossa vida. Investir no sossego do próprio coração é não abrir uma brecha, que poderá virar uma represa, para alguém que não está disponível afetivamente. É prestar atenção nos sinais e indícios que a pessoa dá, logo nos primeiros encontros, do tamanho do sofrimento ou da alegria que ela poderá lhe proporcionar. É saber-se só em quaisquer situações, mesmo acompanhado, pois as consequências de nossas escolhas são absolutamente nossas.

Investir no sossego do nosso próprio coração é saber que aquilo que está doendo deverá ser extirpado e não manter apego ao sofrimento, por mais que o uso do bisturi cause quase a mesma dor. É proporcionar-se bons momentos divorciando-se de tantos lamentos. É não adiar sofrimento postergando decisões tão necessárias. É não se acomodar com a falta de excitação pelas coisas, pessoas, trabalho. É saber-se merecedor de experienciar um amor inteiro, intenso, extenso, imenso, verdadeiro... Recíproco! É aumentar, um pouquinho a cada dia, o seu tamanho. É ter a certeza e a confiança de que as coisas têm um encaixe, mas que é preciso deixar ir, ou ir ao encontro, ou conformar-se com o desencontro, ou esquecer, ou lembrar-se de outras coisas, ou relacionar-se de outra forma.

Investe no sossego do próprio coração quem não rumina o que machuca, quem não fica descascando a ferida impedindo que a mesma cicatrize, quem não se disponibiliza de maneira subserviente e em tempo integral ao ponto de ser desvalorizado ou descartável, quem não aceita menos do que merece: coisas pela metade. Investe no sossego do próprio coração quem sofre, grita, chora, mas cresce! Quem não se repete, quem se surpreende consigo mesmo, quem trabalha o desapego, quem se abre para as coisas que possuem mais calor e sensibilidade.

Investir no sossego do próprio coração é coisa que não vem com a idade, mas com a ideia de que se pode vivenciar um momento de paz e repouso, é desocupar o peito para abrir espaço para o novo, é entregar-se ao desconhecido com inocência e totalidade, é não ter medo de pronunciar verdades, é ser honesto consigo, com o outro.

Investe no sossego do próprio coração quem não se contenta com pouco.


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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

...sobre a dor e o tempo...

 
"É comum, em momentos difíceis, as pessoas dizerem que o tempo cura todas as feridas. Conversa fiada! Na verdade, você fica arrasado, se entrega ao sofrimento e chora até achar que não vai conseguir parar nunca mais - e então chega a um ponto em que o instinto de sobrevivência assume o controle. E você para. Simplesmente não quer nem consegue se permitir mais "entrar em contato" com a dor, porque ela é grande demais. Você a bloqueia. Você a renega. Mas na verdade não se cura."
ALTA TENSÃO - Harlan Coben

domingo, 11 de dezembro de 2011

stunning eyes



"No, indeed, my mind was more agreeably engaged. I've been meditating on the very great pleasure which a pair of fine eyes in the face of a pretty woman can bestow." Mr. Darcy
(Jane Austen)




Como descrevê-los? Aqueles dois olhos inquisidores que podem cortar ao meio minha alma, em metade agonia e metade esperança, como disse Jane Austen. Uma mistura de mistério e desprezo. Algo que me deixa fora do ar, que me convida a me entregar,  a mergulhar. Mas ao mesmo tempo se mostra instável, não confiável, perdido e principalmente, dolorido, ferido, e machucado. Eles me olham através de qualquer multidão, até do vazio: inalcansáveis, incansáveis e cruéis. Os olhos dele. Os que me fisgaram pela alma e me arrastam pela estrada árida da vida até hoje. Como um peixinho se debatendo com o pouco de força que lhe resta, eu me conduzo pra qualquer lugar que possa aliviar a agonia, mas sem acabar com minhas esperanças. Mas não me olha desse jeito, senão troco toda a minha vida, toda minha sanidade só para olhá-lo de volta. Dessa vez serei forte e não evitarei seu olhar. Sustentarei toda essa força que sai dos teus olhos impassível. E oferecerei de volta toda minha vida, minha alma aberta e até meu coração que já é teu. Me censura por ser assim tão louca incansável. Por sentir saudade até do adocicado da tua respiração. Grite, berre, mas depois te cansa e volta.

Aldrêycka Albuquerque



sábado, 10 de dezembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Absence



Já faz tanto tempo que não passo por aqui que acho que nem sei mais escolher as teclas certas para escrever algo com sentido neste blog. Se bem que sentido e lógica nunca foram pré-requisito aqui por essas bandas. Acredito que o maior motivo para minha ausência foi minha tola recusa de vir aqui falar as mesmas coisas. Falar de saudade, e propriamente da tal ausência. Mas antes falar de águas passadas (que pelo jeito nem passaram completamente), que deixar o blog entregue as traças. Pois bem, lá vamos nós. 

Glen Hansard e Marketa Iglova não me permitem esquecer dele. Ok, desculpa esfarrapada, a culpa é toda minha. Qualquer música eu faço lembrar de nós dois, simplesmente a bola da vez agora é The Swell Season. =D Não quero escrever nada bonito hoje. Não tenho nada belo com que falar. Por dentro só tenho falta e cinzas. Não dá pra colorir, é dolorido. 

Por mais que não me afete. Por mais que não chore pelos cantos nem fique fazendo plantão no telefone, isso me consome. Alguém ser o dono das minhas lamúrias e alvo das músicas tristes que tanto gosto, é um saco! Quero estar independente. Livre de qualquer memória ou saudosismo. Me enjoa lembrar dele todo santo dia. Não a lembrança dele em si, mas ter que ser ele, ele, ele, todo dia. É chato, enjoado e monótono. Que eu vivo sem ele eu já percebi. Que continuo respirando, sorrindo e quem sabe até amando, eu sei que consigo! Mas o que chateia é a lembrança. Todo santo dia lembrar. Do quê, né? Nem tem muito o que lembrar, mas o que tem se estica, se propaga, cresce e me sufoca. Fico até sem ar só em pensar. 

Acho que essa é mesmo a melhor palavra. Ele me SUFOCA. Longe, perto, ele me oprime e me sufoca em toda sua presença ou por sua completa ausência. Como alguém consegue preencher o vácuo com sua presença e também sua ausência, alguém me explique! Talvez ele esteja aqui mesmo quando está longe. Vai saber. 

Daí qualquer boca, qualquer mecha de cabelo, qualquer micro expessão perdida no rosto de alguém, me faz lembrar ele. Talvez eu já esteja me lembrando de uma memória, não mais dele. Acho que o que me restou foram lembranças de memórias, como fotocópias quase apagadas. Eu preencho as lacunas com imaginação e tenho só pra mim, e para a posteriadade, alguém que eu inventei. Preenchi as deficiências, ausências, indiferenças e flori tudo para que durasse até que a morte me separe de mim. 

Ah, que besteira. Ser sua própria capataz! Quem diria, senhora segura de si e de seus sentimentos. E quem disse mesmo que o controle é só uma ilusão? Foi o Harlan Coben mesmo ou ele só repetiu um senso comum? Whatever, é pura verdade. No final, nunca controlei nada, só me enganei pensando que era alguém que mantia as rédeas dos próprios sentimentos. Ao mesmo tempo que levava cabeçadas e topadas homéricas! Me deixava levar por qualquer sorriso mal intensionado e qualquer olhar de desprezo. Grande! Consegui me sabotar mais vezes do que seria humanamente possível. Qualquer um teria de viver mais umas três vidas para conseguir copiar minhas audácias. Amar quem não deveria e entender tudo errado, sempre! E ainda pior! Insistir, insistir, insistir... 

Quantas vezes prometi apagar o número do telefone? O e-mail? Nem lembro mais! Se bem que uma vez até o fiz. Mas o destino se encarregou de reaver os números e os e-mails. E as fotos? Jesus, eu tenho problemas! Já ouvi falar de psicopatas muito mais ajuizados!!! Ainda reuno forças para deletar aquelas fotos como até já fiz uma vez, mas uma força maior me desencoraja. Da vez que apaguei, o destino mais uma vez se encarregou de trazer outras novas e mais "matadoras" ainda. Talvez isso é tudo medo de esquecê-lo por completo. Como se isso fosse possível, né? Olho a pasta de fotos ali, meio aberta projetanto uma mínima visualização das imagens que estão lá dentro, talvez um pescoço, uma canela, barba... Nossa, quem sabe outro dia eu apago. Tenho vergonha, sabia? Se um dia ele descobre que guardo fotos, ele teria ainda mais medo de mim do que já tem hoje. Ah, sim, o medo dele. Esqueci de falar, mas eu sou intimidadora e louca. Sou louca, descontrolada, quase uma psicótica comprovada. 

#Mentira, né? Isso só é algo que tento acreditar para que se explique tanta recusa e medo sem sentido do idiota em questão. Pois sim, não acho que ele seja um príncipe encantando. Muito menos a última coca-cola do deserto. Na verdade tenho plena certeza que existem pessoas infinitamente melhores e mais promissoras do que ele. Acredito até que um dia acharei uma dessas pessoas e viverei feliz para todo os sempre. O que me assusta é mesmo assim, tê-lo ali, sempre a espreita. Com um sorriso cínico no rosto como quem diz "nunca vai deixar de pensar em mim, né? bobinha!". Como se ele fosse tudo isso, mesmo. Como se tivesse sido assim tão maravilhoso para não sair mais da vida de alguém...  E nem é.

Enfim. Por hoje é só. Tão infantil esse post parecendo "My dear diary". Mas bem, tô mais leve umas 12 gramas depois disso. -MENTIRA. Mais pesada, talvez.

A.A.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

23/11/11 - 24 anos



What is that gives us this deepness? What is this bitterness that makes us a better person? What tragedy makes us a reflexive and introspective human being? Always happy people are really silly, naive and shallow?

domingo, 20 de novembro de 2011

Uma palavrinha sobre INTOLERÂNCIA.



A palavra INTOLERÂNCIA ultimamente tem sido muito usada por um grupo de ludibriadores. Mal intencionados ou puramente replicadores, estas pessoas estão tentando vender ao mundo uma idéia muito diferente e deturpada do real sentido da palavra tolerância.

Na última semana correu o o mundo diversas foto-montagens de figurões políticos e religiosos se beijando. Vídeos também foram divulgados. Muito mais que defender o respeito aos homossexuais (trans, bi e afins) estes vídeos e fotos são esforços muito bem feitos e investidos ($$) para propagar a doutrina gay na sociedade. Nos últimos anos a ditadura gay deixou de ser apenas tema de debates políticos para por em questão até a educação primária do seu filho (vide o Kit Gay). E tudo embalado de "luta contra intolerância". 


Intolerância?!

Pois eu vou dizer o que é intolerância. Intolerância é um imbecil de qualquer cor ou sexo bater com uma lâmpada fluorescente no rosto de qualquer sujeito de qualquer cor ou sexo. Intolerância é um pai espancar um filho ou sua mulher. Independem dos motivos. Matar um homo ou um hetero não muda a gravidade do crime. É crime (e ponto) e deve ser julgado com a mesma severidade. Intolerância é um ser que se diz humano atear fogo em um ser vivente que dorme nas ruas. Seja ele um mendigo, um índio, uma criança, ou um animal. Uma pessoa que ateia fogo num ser vivo a bel prazer deve não só ser preso, mas ser acompanhado por um psiquiatra também.

Defender esta intolerância aí, na verdade é semear uma ditadura gay onde esses tem regalias em detrimento dos heteros. E estes em suas campanhas, mais "evangelizam" do que pedem por respeito. Sinceramente, não compro a idéia de vocês. Não compro desde o dia que toda essa luta deixou de ser por respeito por um ser humano, para ser palanque para uma turminha querer converter o mundo para a filosofia gay. Como se fosse um terceiro sexo além do masculino ou feminino. Como se eles fossem intocáveis e qualquer um que questioná-los devesse ir preso. Isso sim é INTOLERÂNCIA, colegas.



Intolerância é eu não poder discordar com a ditadura gay. Intolerância é eu não poder me irritar e me chocar com a foto do Papa beijando um líder religioso muçulmano - mesmo não sendo católica. Intolerância é eu não poder querer que meus filhos não sejam alfabetizados com uma cartilha que mostra todas as formas de homossexualidade que existem, o que esses indivíduos fazem e como fazem. Intolerância é eu não poder exercer meu direito democrático de criticar doutrinas. Direito esse que eles (os gays) estão usufruindo neste exato momento ao fazerem suas reinvindicações.

Então, não comprem essa de intolerância. Esse termo está sendo subvertido. Nossa sociedade precisa aprender a amar ao próximo, a respeitá-lo, independente de cor, credo ou sexo. Mas isso não te impede de criticar doutrinas e comportamentos. Contanto que essas críticas não desrespeitem ninguém, este é seu direito cívico, faça uso dele.

Aldrêycka Albuquerque

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

[RESENHA] Um Dia - David Nicholls



Uma magnífica história, contada de uma forma incomum, ano a ano, no aniversário de quando se conheceram, e com alguns espaços de tempo intercalando o período de 20 anos da vida de duas pessoas: Dexter Mayhew e Emma Morley. Eles se conheceram no dia da formatura da faculdade. Eles não eram da mesma sala, mas se conheciam de vista. Com a formatura, eles acabaram na cama e se conhecendo melhor. Durante vinte anos “cresceram juntos”, porém separados. Às vezes ele na Índia e ela em Londres. Às vezes ele em Londres e ela em Paris. Cartas, telefonemas, às vezes nem isso. Ficaram tanto tempo separados, se viam pouco, mas um precisava do outro.

Dexter Mayhew (clique para ampliar)


O enredo desse livro é espetacular, pois não é nada trivial. Você sofre com Dex e com Em, cada um cometendo suas errâncias, mas também com suas razões. E você começa a entender e respeitá-las.

Esse não é um livro adolescente. Não é um livro bobo de romance. Ele está recheado de questionamento e reflexões que acabamos tomando pra si. Dimensiona a intensidade da vida e põe na balança o que é ou não importante nela. Frustrações, sucesso, carreira, amor, morte, fidelidade, sexo, amizade, família... Este livro é completo. Faz você terminá-lo angustiado por não ter mais informações, por não continuar com aquela história.

Emma Morley (clique para ampliar)


QUOTES

"Achava que tinha a resposta, que eles poderiam resgatar um ao outro, quando na verdade Emma estava muito bem havia anos. Se alguém precisava ser resgatado, era ele." (P.330)

"As pessoas te amam, Dex, de verdade. O problema é que elas te amam de uma forma irônica, meio sacana, uma espécie de mistura de ódio e amor. O que você precisa é de alguém que ame você sinceramente..." (P. 240) 

“- Dexter, eu te amo muito. Muito, muito, e provavelmente sempre amarei. – Os lábios dela encostaram no rosto dele. – Só que eu não gosto mais de você. Sinto muito.” (P.206)


UM DIA do David Nicholls virou filme!
Se você ainda não viu o trailer, são dois: 



Você também pode evitar spoilers e só assistir aos trailers depois de ler o livro, foi o que eu fiz. E não me arrependo. Você só precisa de rostos para os personagens.

Enjoy it. Definitivamente, minha melhor leitura do ano.


Aldrêycka Albuquerque

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Deslumbres Sucumbiram-se



Ela caminhava docemente pela alameda fervilhando de carros, fumaça, ambulantes e urgências de todos os tipos. Deslizando suavemente pelo asfalto, como se ali não pertencesse. Beatriz com os pensamentos nas nuvens, como sempre, questionando o caos do Universo, não se apercebe a figura que a segue. Ela chega a seu destino, naquela ruela quente, cheia de ladrilhos e mesinhas redondas de ferro pegando o fogo pelo sol de meio-dia. Ela entra no restaurante a procura de um abrigo refrigerado, no momento em que o vê. Pedro, ao seu encalço, entrando logo atrás dela. Sorrindo aquele sorriso de mil brancos dentes. Sonoro e tão bem apessoado. Ela não teve tempo de esboçar reação, se virou e procurou uma mesa o quanto mais distante possível. Ele franzio o cenho sem entender a rabiçaca, mas a acompanhou e sentou ao seu lado na mesa. Beatriz sacou sua distração, e pelo telefone delisava o dedo freneticamente, como se realmente estivesse entretida e não tivesse percebido aquele homem todo ali na sua frente.

Se deu a partir dali então, uma série de curtas frases, cheias de dúvidas e à força ignoradas. Beatriz mal tirava os olhos do aparelho, como se tivesse ali nas mãos um escudo contra aqueles olhos inquisidores. Dez minutos depois, enfim ela soltou a respiração. Não mais doía. Só precisou de dez minutos pra perceber que a ferida já não mais sangrava, já não mais ardia. Soltou o telefone na mesa, e abriu um sorriso de quem acaba de ser liberta. Tal mudança repentina de estado de espírito confundiu Pedro. De capataz passou a ser a presa, por um segundo sentiu a espinha arrepiar, talvez seus anos de tortura tenham acabado. A antiga presa indefesa tinha partido as correntes dos próprios pulsos. Acuado quem estava agora era ele. Frente aquele sorriso de mil estrelas daquela que por tanto tempo só tinha olhos grandes, medo e esperança estampados no rosto inocente. 

Beatriz sorriu. Sonoramente. Era um aviso claro de que nada mais era como antes. Ela tinha saído da gaiola onde estivera presa por tanto tempo. Gaiola que só esteve trancada por um cadeado feito de papel, medo, dúvida e imaginação. Ela se soltou de uma prisão que tinha feito para si mesma. E enfrentava seu inquisidor com um sorriso de quem encontra a chave da própria liberdade. Beatriz olha para o rosto de Pedro agora sem medo de se perder por entre aquelas linhas da expressão dele. Percebe que ele não passa de um cara normal, igual aos outros. O coração dela se aqueceu. Não via a hora de falar em alto bom som: não me prendes mais a teus olhares. Não me fazes mais tremer as pernas. Sou só minha agora. 

Tomou um gole da água que pedira no restaurante, sentiu o gelado lhe descer a garganta. Olha nos olhos do seu antigo capataz e dispara, com um sorriso no canto da boca: -"Já era em tempo do deslumbre sucumbir e a tinta descascada na parede úmida enfim se mostrar".

Pedro sorri tristonho, entendendo as palavras poéticas, como sempre, tão bem aplicadas. Ele se levanta e sai dali. Por sete maravilhosos anos ele não mais apareceu. Só virou as costas largas e seguiu com sua vida. Por sete-longos-anos. 

Aldrêycka Albuquerque

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Texto do blog publicado nacionalmente!

Saiu!!!!!!! O livro CRÔNICO! saiu do forno e será lançado oficialmente dia 12/11 no Rio de Janeiro. Nele vocês encontrarão meu texto INDECÊNCIAS que publiquei aqui no Another Thoughts em 2008. Segue press release!


 
Editora Multifoco lança coletânea de crônicas ilustradas.
 

Com lançamento previsto para o dia 12 de novembro, a coletânea Crônico! (R$28, Ed. Multifoco, 100 páginas.), organizada pelos escritores Jana Lauxen e Beto Canales em parceria com a Editora Multifoco, reúne a nova safra de cronistas e ilustradores brasileiros.
São, ao total, 18 crônicas e 18 ilustrações, que reúnem o melhor de todo o material recebido durante a seletiva, que buscou, pelos quatro cantos deste Brasil, cronistas e ilustradores dispostos a colocar seus textos e ilustrações na avenida:

- Existem excelentes escritores e ilustradores em nosso país; infelizmente (e injustamente) em sua maioria ainda desconhecidos. Um dos principais objetivos da Editora Multifoco é encontrá-los e publicá-los. Uma forma de colocar leitores em contato com autores que, através dos meios de comunicação convencionais, nunca teriam a oportunidade de conhecer. – diz Jana Lauxen, uma das organizadoras da coletânea. 

A obra conta com autores do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Bahia, o que, segundo a organizadora da coletânea, só vem a somar no resultado final da obra, que considera pra lá de satisfatório.

- O Brasil é um país imenso, cheio de culturas diferentes e, naturalmente, de realidades e pontos de vista também diferentes. Reunir autores de diversos lugares do Brasil, cada qual com sua visão sobre situações completamente distintas entre si, trazem ao leitor um panorama atualizado da realidade brasileira. Além do que, é muito interessante descobrir o que pensam estes novos escritores que, de uma maneira ou de outra, também estão escrevendo hoje o futuro da literatura no Brasil.

Os textos que compõem a obra discorrem sobre os mais variados assuntos, indo desde literatura, Deus, galinhas, maconha e futebol, até festas, esperas, pêssego, vida e morte – todos retratados também por meio dos quatro ilustradores, que deram traço e forma aos textos que receberam.

O resultado desta miscelânea de autores, ilustrações, textos e temas poderá ser conferido a partir do dia 12 de novembro, data do lançamento da obra, que acontecerá no Rio de Janeiro, no Espaço Multifoco (Av. Mem de Sá, 126 - Lapa), entre 18h e 21h.

Quem não puder comparecer ao lançamento e tiver interesse em adquirir seu exemplar, é só entrar em contato com a editora Multifoco através do telefone 55 21 25071901.

Um livro que, sem dúvidas, sua estante merece guardar.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Destino

"Será que se apaixonar pela história de uma pessoa é a mesma coisa que se apaixonar pela própria pessoa?
DESTINO - Ally Condie
 
É difícil dizer. Principalmente pra mim, que me apaixono por olhares, sorrisos, queixos, barbas, orelhas, cabelos... Quanto mais por histórias!  Com seus mistérios, dores, amores, suor, luxúria, desejos, mais mistérios, o que nunca é dito, o que é omitido... Histórias são deliciosas! Difícil não se apaixonar por elas! Quanto mais pelas pessoas que as carregam! Cada uma com suas mágoas, suas cicatrizes, seus temores, suas rachaduras. Me apaixono sim!! Por histórias e por seus donos. É a mesma coisa. 
Aldrêycka Albuquerque
 
 
 
- Ok, não sei o motivo de Mr. Darcy estar neste post. Mas ele apareceu aqui na tela, e não pude resistir a esse olhar de censura e desprezo tão sexy. 

domingo, 16 de outubro de 2011

[RESENHA] Ame o que é seu – Emily Giffin





Apesar do nome característico de livros de auto-ajuda, não é este o caso. Acredito que a escolha do título não tenha sido de fato muito feliz. E olhe que nem foi a versão brasileira, já que “Love the one you’re with” (Ame quem está com você) tem o mesmo ar clínico-terapêutico do título brasileiro. Passado todo o preconceito pela fraca escolha do título, vamos para o que interessa: o conteúdo. E esse aí sim, deu gosto de ler.

Versão em inglês - Love The One You're With
Como a sinopse fala, Ellen é casada com Andy, o esposo dos sonhos. Tem uma vida maravilhosa, mas um belo dia ela esbarra na rua com seu ex, Leo. Um encontro ao acaso (no qual todas nós estamos a mercê de vivenciarmos) faz Ellen virar a cabeça e começar a por em cheque seu casamento, sua vida e principalmente sua paz e felicidade pessoal. Um ex, num cruzamento, a fez questionar toda a sua vida. Deu pra sentir o quão grandioso é isso? Por mais fantasioso que pareça, por Deus, poderia ser comigo! Com vocês não?

Este livro é incrível por dar a sensação de que “poderia ser comigo”. Poderia acontecer com uma prima, uma irmã, uma amiga... Isso se cada uma de nós já não conhecer alguma mulher que já passou por isso! Não fosse o título ridículo, que já dá uma dica de qual a posição da escritora mediante tal encruzilhada amorosa, você tem medo da Ellen poder tomar a decisão errada. Se é que existe a possibilidade de rotular certo e errado nessas questões. Mesmo assim, a protagonista vai cometer erros e acertos que nos vão fazer vibrar, arrepiar e suspirar ao ler esse livro. Talvez de início você, como eu, pense: “Ah, mas eu não faria isso... Que frágil e fulgaz ela está sendo.”. Mas ao decorrer da leitura, você percebe a dimensão dos sentimentos dela, o quão Leo consegue mexer com o seu mundo e quanto o Andy a ama verdadeiramente, e ela também. É muito mais difícil que parece, e sim, provavelmente você cometeria os mesmos erros da Ellen, ou até pior. Quem sabe?

Emily Giffin
“Ame o que é seu” é uma leitura leve, instigante, cheia de dramas modernos que extrapolam “assuntos do coração”. Ele permeia questionamentos que vão desde o amor e o luto, até a felicidade, amizade e satisfação profissional. Sinceramente, achei um livro bem completo. Ele nos expõe às fraquezas e dúvidas que a maioria de nós temos e passamos, mas que muitas vezes subestimamos, ou jogamos para debaixo do tapete. É um livro instigador e reflexivo sem ser chato, moralista ou maçante. Enfim, é uma daquelas leituras obrigatórias. Recomendo muitíssimo.

Só uma reclamação: odiei essa de classificar este livro como "chicklit". Tenho meus motivos, já que odeio essa classificação, lê-se "romancezinho de mulherzinha afetada". Então, me recuso a aceitar que este livro esteja dentro dessa nova e pejorativa classe da literatura moderna.

  

Aldrêycka Albuquerque
Resenha feita para o Palavras Prolíferas. 

sábado, 15 de outubro de 2011

:: memórias e cansaços ::



 Vai Passar


Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca".

Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência. 

Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. 

E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços. Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça. 

Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa. Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim: - "... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ..."

Caio Fernando de Abreu