domingo, 13 de abril de 2014

[RESENHA] A menina que fazia nevar - Grace McCleen



Primeiro livro dessa autora que eu li. Ganhei em uma promoção da editora Paralela no ano passado, e só nesse mês que eu resolvi lê-lo.

Pense em uma historinha leve, com linguagem poética e cheia de fofuras. Judith, a protagonista de dez anos do livro, recebe uma bela dádiva dos céus. Deus passa a conversar com ela e a conceder a menina o dom de realizar milagres.

A trama é muito bem feita, rápida, sem enrolação. A construção do pensamento, de ideias e conceitos super complexos são simplificados pela autora, a um nível que qualquer criança entende. Deus, milagres, amor, perdão, poder, Armagedom, profecias... e fé. Coisas tão difíceis de se explicar, e Judith com sua maquete feita de sucata nos faz entender e refletir sobre tudo isso.

Esse é um livro que te engana. Ele parece bobo, parece simplista, parece maluco. Mas ele é complexo, ele ensina e educa, ele te prega coisinhas na cabeça, que depois são difíceis de sair. Como diz mesmo na capa (muito fofa, por sinal) "Transbordante de tensão e ternura, este romance é em si um pequeno milagre."

E o final, surpreendente! Dá medo, dá pena, dá dúvida. Do tipo de final que vem semi pronto. Você e seu próprio repertório de vida é quem vai moldar e fechar a história. Acreditar ou não, duvidar, pensar, pensar, pensar... Lindo. Leve e gostoso de ler! Indico mil vezes. <3

QUOTES:
"Milagres não têm que ser coisas grandes e podem acontecer nos lugares mais improváveis; os milagres dão mais certo com as coisas simples. Paulo diz: 'a fé é a garantia dos bens por que se esperam, a prova das realidades que não se veem', e se a gente tiver só um pouquinho, outras coisas vão acontecer também. Às vezes mais do que sonhamos."
"Porque a fé é igual à imaginação. Ela vê uma coisa onde não há nada, dá um salto e de repente você está voando."
"...então comecei a falar com Deus. Sempre achei que era só uma questão de tempo até Ele responder. Pensava nisso como uma chamada telefônica de longa distância. A linha era ruim, havia passarinhos sentados em cima dela, caía uma tempestade, então eu não conseguia entender o que a outra pessoa estava dizendo, mas nunca duvidei de que, no fim, iria ouvir. Aí um dia os pássaros saíram voando, a chuva parou e eu ouvi."
"E foi assim que aprendi que tudo é possível (...). Se você acha que não, é só porque não consegue ver como está perto, como só precisa fazer uma coisinha que tudo vai começar a acontecer para você. A fé é um salto: você está aqui, a coisa que você quer está lá. Há um espaço entre você e ela. Você só tem que saltar. Andar sobre as águas, mover montanhas e trazer os mortos de volta à vida não é difícil. Você dá o primeiro passo e o pior já passou, você dá o seguindo e já está na metade do caminho."


PS: O título original do livro, "The land of decoration" também é bem fofo, não é? E a recomendação "Este conto extraordinário me agarrou bem pela garganta."

 




Aldrêycka Albuquerque

sábado, 12 de abril de 2014

escrevo para você



Eu escrevo para calar os meus desejos.
Escrevo para libertar meus prisioneiros.
Escrevo para te fazer me escutar em uma outra dimensão cósmica.

Mas tudo o que eu te escrevo trafega em fios que envolvem o mundo.
Fios que passam pelos céus do teu quintal, pelos céus do meu jardim.
Fios que pássaros costumam pousar e pesar, atrapalhando a mensagem.

E eu fico esperando os pássaros alçarem vôos, para que liberem nossos fios.
Para que minha mensagem chegue a você intacta.
Para que nossa saudade não pegue carona com as aves, e nos deixe.

Eu escrevo para realizar a maquete que construí de nós dois.
Construí duas pessoinhas sem nariz e meio disformes.
Construí duas marionetes das nossas vontades.

Eles não são impedidos de se amarem.
Nossos avatares são instrumentos de tudo o que calamos.
Nossos avatares se permitem serem tudo o que desistimos de ser.

E eu fico só, esperando que nossos fios se encontrem no final.
Para que você me escute, me leia, me decifre.
Para que durante à noite você deite e guarde para si pelo menos uma certeza:

Eu escrevo para você.
Apesar dos prisioneiros.
Apesar dos pássaros.
Apesar dos fios.
Apesar das marionetes.
Apesar das vontades.
Apesar das ausências.

Eu escrevo pra você!