domingo, 22 de março de 2015

Pedido de Desculpas


Sorry

Eu vim pedir desculpas por ontem. Nossos excessos não deveriam ter tido todo o espaço que receberam de nós. A folga que nos permitimos ontem, não devemos repetir. Vamos colocar limites.

Fica então proibido roubar beijos no canto do bar, escondido dos nossos amigos. Jamais sussurrar no ouvido do outro que já esperou demais, que não aguenta mais segurar aquele turbilhão. Muito menos sair escondidos na maior marcha que nossos desejos conseguiram impor.

Não deveríamos ter ido parar num quarto de hotel nessa cidade esquisita. Cheia de pessoas vazias de vida e cheias de si. Eu beijando o arco do teu pescoço, e você percorrendo as minhas costas com a ponta dos dedos. Desnecessário ter tirado tua camisa com urgência, e ter esquadrinhado teu peito como quem enfim chega na terra natal - saudades de casa! É como se tudo fosse novo, mas familiar de alguma forma. Teu peito desenhado, teus pelos macios me confortando o toque. Beijo teu peito como quem consola "cheguei, meu bem. O caminho foi longo mas voltei pra ti".

Se tivéssemos parado aqui não teria sido tão irreversível como foi, quando, em um movimento meticuloso e sedutor, você desabotoou minha camisa. Aprofundando beijos estalados para cada botão desatado. Beijastes de leve a maçã dos meus seios, pedindo permissão para saborear a fruta, mordiscar o proibido. Ao desatar os poucos nós que ainda restavam, entramos num beco sem saída. Naquele momento não tínhamos mais volta. E sem medo, fomos em frente.

De repente eu estava presa entre tuas coxas, sentindo teu cheiro tão selvagem, que parecia emanar de mim também. A penugem macia do teu abdômen me consolava como chocolate quente em dia de chuva. Teu cheiro doce e pungente acariciava meus sentidos e me dava água na boca. Teus beijos tão sinceros e urgentes. Teu toque tão certeiro e irremediável. Eu cedi cada parte de mim. Entreguei o corpo quando a mente já não conseguia mais resistir. Entreguei a mim quando percebi que eu seria maior se fosse tua posse.

Foi ali que viramos tatuagem. Foi quando tudo se tornou irreversível. Sem chances de arrependimentos. Entramos numa torrente de desejo cego, maduro, alimentado por muitos anos de carinho e cumplicidade. Desembocamos numa ilha desconhecida onde éramos ambos outras pessoas. Nos conhecemos de novo ali. Quem tínhamos nos tornado?

Eu queria era pertencer a você, mais do que mesmo te esperar numa caixa vermelha de presente. Eu preferia ser tua sem reservas, sem ter certeza se você seria meu algum dia. Só quis ser tua propriedade. Pertencer a teus abraços, ficar presa entre tuas pernas, estar à tua mão. Sem nada em troca. Só experimentar ser só tua e ver teus olhos brilhando e queimando os meus.

Depois de tudo, fomos embora diferentes. Tendo experimentado coisas que até então só estiveram em nossas fantasias. E foi tão natural! Foi como voltar pra casa. Foi como reencontrar um pedaço da gente que nem sabíamos que tínhamos perdido.

Mas foi uma pena isso ter te assustado tanto. Só agora eu pecebi que sua vida adulta foi baseada em fugir do passado. Nada familiar te agrada. E sentir como se tivesse se encontrando com o que você perdeu lá trás, te assustou de uma forma tão obscena, que tenho vergonha de ter contribuído com isso. Ter sido parte integrante e fundamental para te tirar do eixo. Só vim pedir desculpas. Dizer que isso está impresso na minha pele, mas vou fingir que não aconteceu. Só para preservar a imagem da pessoa distante e desprendida que você construiu.

Só vim pedir desculpas...


Aldrêycka Albuquerque

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